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A Pandemia da desigualdade

Quando ouvi pela primeira vez que a COVID-19 era “doença de rico”, pensei imediatamente: até quando? Durou pouco. Em junho, quando escrevo este artigo, morre-se muito mais na periferia de São Paulo, regiões onde a pobreza, as más condições de vida e trabalho, são presentes.

Dados da prefeitura de São Paulo e publicados pela Revista Veja em junho de 2020 (auge da pandemia) mostram que o problema da desigualdade na saúde só foi escancarado pela pandemia.


Na Brasilândia, bairro periférico da Cidade de São Paulo, que em junho registrava o maior número de óbitos pela COVID-19, o tempo médio para uma consulta médica é de 62 dias. Paralelamente, a taxa de emprego formal é uma das menores da cidade e o distrito é um dos menos arborizados. Sem saúde, sem emprego, sem qualidade de vida. O que é causa e o que é consequência?


Outro dado: morre-se mais pelo coronavírus em hospitais públicos do que privados. As mortes confirmadas e suspeitas ocorridas nas redes públicas municipal e estadual correspondem a 58,7% do total. A disponibilidade de leitos hospitalares, públicos e privados para cada 1.000 habitantes é de 0,007 (não digitei errado) em Parelheiros, bairro periférico e de 38,64 na Bela Vista, bairro central da cidade de São Paulo.


Negros e pardos têm 62% e 23% mais risco de morte pela COVID, respectivamente. A gravidez na adolescência, medida pela proporção de nascidos vivos de mães com 19 anos ou menos, em relação ao total de nascidos vivos é de 18,85% no bairro de Marsilac e de 0,35 em Moema (bairro nobre de São Paulo).


Por fim, a idade média ao morrer e de novo o bairro de Moema com uma das maiores expectativas de vida, 80,57 anos contra 57,31 anos na Cidade Tiradentes, outro bairro de periferia. A expectativa de vida no Brasil hoje é de aproximadamente de 77 anos. O bairro Cidade Tiradentes tem expectativa de vida de 50 anos atrás. É como se o bairro vivesse (ou morresse) na década de 1970.


Já conhecemos bem a doença, ainda não há vacina, então precisamos conhecer melhor as pessoas.


A saúde é um dos recursos que nos permitem sonhar, a doença rouba até nossos sonhos. Vou apelar aos deuses da medicina. Higéia, filha de Esculápio, está associada à prevenção de doenças e à continuidade da boa saúde, cuidava da limpeza e do saneamento, dando origem a palavra higiene. Panacéia, irmã de Higéia, era a deusa da cura, irmã de Meditrina da longevidade e de Akeso da recuperação. Deuses atuais no combate à COVID, sede no centro ou na periferia, seja para ricos ou pobres.

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