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O custo dos fatores de risco psicossociais

O estresse relacionado ao trabalho como um dos principais fatores de risco psicossociais, é uma das principais causas de perda de produtividade e erro humano. Isso significa aumento de absenteísmo por doença, alta rotatividade e aumento dos casos de acidentes e doenças ocupacionais. Conhecer o problema é o primeiro passo para gerenciá-lo de forma sensível, inteligente e sempre visando minimizar o impacto do estresse relacionado ao trabalho na empresa e em seus funcionários. O processo é de ganha-ganha com melhor desempenho da empresa e mais saúde e bem-estar para os funcionários.


Para os indivíduos, os custos incluem perdas financeiras e despesas adicionais, tais como pagamentos de consultas médicas, medicamentos e tratamento hospitalar. Para as empresas, esses custos incluem custos de absenteísmo por doença, substituição de funcionários e rotatividade, aposentadoria precoce, compensação e indenização, danos ao equipamento e à produção resultante de acidentes e erros, redução de desempenho e produtividade, comprometimento da imagem pública e da reputação da empresa. Para a sociedade, esses custos incluem consultas médicas, medicamentos, hospitalizações, tratamentos ou reabilitações que são financiados pelo Estado, bem como custos relacionados a aposentadoria precoce ou absenteísmo por doença¹². Todos perdem.


Dentre alguns estudos e números sobre o tema, destacamos alguns dados que chamam a atenção, em especial no Reino Unido:


1- Cerca de 1 em cada 7 pessoas dizem que acham seu trabalho muito ou extremamente estressante³.

2- Em 2005/2006, pouco menos de meio milhão de pessoas na Grã-Bretanha relataram que enfrentavam estresse relacionado ao trabalho em um nível que acreditavam adoecê-los.

3- A depressão e a ansiedade são as queixas mais comuns relacionadas ao estresse, afetando 20% da população trabalhadora do Reino Unido.

4- Quando o estresse leva ao absenteísmo, o tempo médio de licença por doença é de 30,1 dias4. É muito maior do que a duração média da licença por doença relacionada ao trabalho, que é em geral de 21,2 dias.

5- Um total de quase 11 milhões de dias úteis foram perdidos no estresse, depressão e ansiedade em 2005/2006.


Um estudo austríaco revelou que 42% dos trabalhadores administrativos (chamados de white collar) que se aposentam precocemente o fazem por causa de problemas psicossociais relacionados ao trabalho⁵. No Reino Unido, em 2011 e 2012, o estresse relacionado ao trabalho levou à perda de 10,4 milhões de dias de trabalho, com tempo médio de afastamento de 24 dias. Outros estudos mostraram que entre os funcionários que afirmaram "sempre trabalhar sob pressão", a taxa de acidentes é cerca de cinco vezes maior que a dos funcionários que afirmaram “nunca trabalhar sob pressão”⁶.


Uma pesquisa financiada pela União Europeia estimou o custo da depressão relacionada ao trabalho em EUR 617 bilhões/ano. O total era composto de custos decorrentes de absenteísmo e presenteísmo (EUR 272 bilhões), perda de produtividade (EUR 242 bilhões), custos de saúde (EUR 63 bilhões) e custos de bem-estar social, na forma de pagamentos de benefícios de invalidez (EUR 39 bilhões)⁷.


A pesquisa analisou também o custo-efetividade de alguns programas com intervenções para depressão. Os resultados mostraram que para cada EUR 1,00 investido, pode-se gerar benefícios econômicos líquidos de até EUR 13,62/ ano.


No Brasil, dados do Ministério da Previdência Social mostram que a Previdência Social pagou em benefício auxílio-doença, no período de 2000 a 2011, um total 14,4 bilhões de reais e que 12% dos benefícios auxílio-doença foram provenientes das relações de emprego. Outro dado que chama a atenção é a causa dos afastamentos que se deslocou de doenças infecciosas e traumas para doenças crônicas não transmissíveis. Estima-se que a depressão e outros transtornos ansiosos estão entre as quatro causas mais frequentes de afastamento do trabalho⁸, sendo que no ano de 2013 só a depressão foi responsável por 61.044 dos casos.


As principais causas de afastamento previdenciário são:


  • Episódios Depressivos,

  • Outros Transtornos Ansiosos,

  • Transtornos Mentais e Comportamentais Devidos ao Uso de Múltiplas Drogas e ao Uso de Outras Substâncias Psicoativas,

  • Transtorno Depressivo Recorrente,

  • Transtorno Afetivo Bipolar,

  • Transtornos Mentais e Comportamentais Devidos ao Uso de Álcool,

  • Reações ao Stress Grave e Transtornos de Adaptação,

  • Transtornos Mentais e Comportamentais Devidos ao Uso da Cocaína,

  • Esquizofrenia e

  • Psicose Não-Orgânica não Especificada.


Nota-se a presença de quatro grupos de transtornos entre os mais frequentes: os de humor, os ansiosos, os de uso de substâncias e os psicóticos.


Considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID), no período de 2000 a 2011, vinte CID´s foram responsáveis por 50,17% de todos os benefícios auxílio-doença. As doenças dos grupos M (doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo) e F (transtornos mentais e do comportamento) somaram 20,76% de todos os afastamentos, superando aquelas dos grupos S (lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas) e T (traumatismos envolvendo múltiplas regiões do corpo) que somaram 19,43% do total. As doenças dos grupos M, F, S e T respondem por 40,25% de todo o universo previdenciário⁹.


Por fim, o impacto do estresse. Temos inúmeras evidencias científicas que períodos prolongados de estresse, incluindo o estresse relacionado ao trabalho, têm um efeito adverso na saúde. As pesquisas revelam que há fortes ligações entre o estresse e efeitos físicos como doença cardíaca, dor nas costas, dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais, entre outras e efeitos psicológicos como ansiedade e depressão, perda de concentração e dificuldade para tomada de decisão.


O estresse também pode levar a outros comportamentos com efeito adverso na saúde e no bem-estar psicológico e físico, por exemplo, isolamento social, comportamento agressivo, abuso de álcool e/ou outras drogas e distúrbios alimentares.


Ainda que o trabalho não seja a única causa, é importante reforçar seu papel de manutenção e promoção da saúde mental, um espaço de aberturas para informar e orientar os trabalhadores a respeito não só dos riscos psicossociais do trabalho como também da saúde mental, promovendo assim o bem-estar dentro do trabalho.


Invista em bem-estar.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1- EU-OSHA. European Agency for Safety and Health at Work. OSH in figures — Stress at work — Facts and figures. Office for Official Publications of the European Communities, Luxembourg. 2009.

2- EU-OSHA. European Agency for Safety and Health at Work. Research on changing world of work. Office for Official Publications of the European Communities, Luxembourg. 2002.

3- Psychosocial working conditions in Britain in 2007 HSE 2007. www.hse.gov.uk/statistics/pdf/pwc2007.pdf

4- Self-reported work-related illness and workplace injuries in 2005/06: Results from the Labour Force Survey HSE 2007 www.hse.gov.uk/statistics/lfs/lfs0506.pdf.

5- Eurofound. European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions. Work-related stress. Dublin. 2007.

6- EU-OSHA. European Agency for Safety and Health at Work. Calculating the cost of work-related stress and psychosocial risks. Office for Official Publications of the European Communities, Luxembourg. 2014a.

7- Matrix. Executive Agency for Health and Consumers. Economic analysis of workplace mental health promotion and mental disorder prevention programmes and of their potential contribution to EU health, social and economic policy objectives. 2013.

8- INSS/DIRSAT/DACBI Diretoria de Saúde do Trabalhador / Divisão de Acompanhamento e Controle de Benefícios por Incapacidade. Sistema: Sínteseweb DATAPREV. Consulta: jul/2017.

9- BRASIL. 1° Boletim Quadrimestral sobre benefícios por incapacidade. Coordenação-Geral de Monitoramento Benefício por Incapacidade CGMBI/DPSSO/SPS/MPS. Brasília. 2014.

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