Bula - Notas do autor
- Dr. Eduardo Arantes
- 17 de fev. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de jul. de 2020
Olá amigas e amigos, acredito que precisaremos formar médicos com conhecimentos sociológicos e sociólogos com conhecimento médico. A medicina é uma ciência essencialmente biológica, mas sobretudo humana. Por quê?
Todos nós sabemos que precisamos mudar nosso estilo de vida e mesmo assim não mudamos. Todas as evidências científicas demonstram a importância da atividade física, da alimentação saudável, do uso moderado de álcool e os grandes riscos do tabagismo, das drogas e do estresse. Tudo isto é “jornal velho”, um axioma, pois falamos deste assunto há muito tempo.
Além disso, a medicina sempre passa por alguns “recalls”. Mudam os valores normais da glicemia e do colesterol, demonizam e depois exorcizam a manteiga, o ovo, etc., mas algumas recomendações são seculares, principalmente relacionadas ao estilo de vida. Resumindo, o médico Canadense, Willian Osler disse: “Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença”.
Já peguei muito no pé de meus pacientes. Confesso que nós médicos e profissionais da saúde, temos muita dificuldade em medir a intensidade das cobranças que fazemos. Como pegar leve com alguém que corre risco eminente de morte? Mudei minha forma de abordagem: dou a informação com as melhores evidências científicas possíveis, porém mostro caminhos alternativos para pelo menos estimular uma leve mudança no estilo de vida. Sei que às vezes não parece o bastante, mas alguma coisa é sempre melhor que nada. Já escrevi que o ótimo é inimigo do bom e o bom é arqui-inimigo do razoável. Ouvi uma conversa entre dois representantes comerciais que discutiam a comissão e um deles disse: “Você quer 100% de nada ou 50% de tudo”! Não quero dourar a pílula, mas não fazer nada é sempre pior e descobri que as pessoas não estão ou podem não estar esperando nossa mensagem médica. Como dar a mensagem correta, para a pessoa adequada, no momento e formato correto? Tenho certeza que uma mudança discreta em sua conduta e hábitos vão ter um significado ou uma aplicação prática, ou seja, você aproveitará mais sua vida.
O desafio é grande! Como promover a mudança de hábitos e comportamentos nesta sociedade multicultural, multiétnica e “multi-informacional”. Eu também sofro. Às vezes me sinto um vendedor de leite em pó no deserto africano. O produto é bom, necessário e vital, porém não conseguimos a “liga” para juntá-los.
Acredito que tenhamos que, a qualquer momento, ter um estilo de vida saudável e regular, porém como começar? Seria possível iniciar com pequenas mudanças de hábito? Como ser moderado nesta sociedade de excessos? Como sair do mundo dos conceitos para o mundo da ação? Como gerir nossas inúmeras prioridades? Aprendi um termo jurídico que é a “retórica da obrigação impossível”. Faça, no mínimo, o possível e só a repetição gerará o aprendizado.
Um dos grandes dilemas da humanidade se chama “escolhas”. Não sou tão velho, mas na minha juventude não tínhamos tantas possibilidades de escolha. Havia duas marcas de cerveja, poucas de chocolate, as cachaças e os vinhos eram de qualidade questionável, não havia tantos fast foods, internet, etc. Hoje há um festival de tentações. E o pior elas estão sempre ao nosso alcance. Como resistir?
Nos meus livros escrevi, às vezes de forma anedótica, algumas síndromes médicas. Mas a que descrevo a seguir é séria: a chamada Síndrome do Estilo de Vida. Síndrome em medicina é definida como um conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada doença ou condição. Quais seriam estes “sinais e sintomas”? Sedentarismo, má alimentação, pouco sono, estresse, uso abusivo do álcool, etc. Esta síndrome é que mais mata no mundo, sim o estilo de vida é responsável pelo surgimento de dois terços dos casos de doenças crônicas não transmissíveis, como a pressão alta e o diabetes. E sabe quais são os principais fatores: lá vem eles de novo - sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo e o uso abusivo de álcool. Os grandes inimigos da vida longa e saudável. Um destaque negativo para o sedentarismo que já é o 4º maior fator de risco de mortalidade global. Pare de testar seus limites, pois você não irá gostar do resultado.
Neste blog você terá dicas inusitadas de saúde e bem-estar divididas por temas. A maioria das minhas recomendações não tem, ainda, uma comprovação científica, mas repito qualquer coisa é melhor que nada. Se você já tem um estilo de vida saudável, mantenha-o, se não esta é a hora de começar. Se você não conseguir assimilar as orientações desta coluna, repense, contemple-se no espelho, reflita, pois sua vida pode estar em risco. Possivelmente você não está fazendo nada para se livrar da síndrome fatal.
Nosso organismo é redundante. Observe: dois olhos, duas orelhas, duas cordas vocais, dois braços e pernas, dois pulmões, dois rins, dois intestinos, dois ovários, etc. Mas acredite, mesmo com todo este aparato de redundância, em algum momento haverá falhas catastróficas.
Como algumas mudanças têm um resultado muito positivo na saúde e longevidade, alguns temas têm mais de uma dica. Não diria que são os principais, mas com certeza estes podem ser um bom começo para suas escolhas saudáveis. Neste mundo “comoditizado”, as informações estão à disposição em um click, portanto não deixe de aprofundar, aos poucos, em alguns temas e nas principais dicas. Esta coluna também poderia se chamar: “Escolhas Cotidianas”. A prevenção é o início.
A medicina moderna evoluiu para o diagnóstico, tratamento, recuperação, cuidado em casa e cuidado paliativo. Isto mesmo os cuidados paliativos para uma “qualidade de morte”. Antes de tudo vêm uma vida saudável e a prevenção, esquecidas por pacientes e médicos e que infelizmente não “evoluiu” tanto como a medicina moderna.
Voltaire disse que há duas dádivas neste mundo: a esperança e o sono. Outro pensador, Kant acrescentou o riso. Escrevi um capítulo sobre o sono e o riso. A esperança é por sua conta.
Freud disse que a nossa civilização está alicerçada na supressão dos instintos. Freud não sabia, mas a ciência de hoje sabe que o sistema límbico, lá no cérebro, nos deixa impulsivos e no “automático”. Já o córtex pré-frontal, que além de ser responsável pela criatividade, possui o controle das emoções, das ações e do pensamento. Ainda não temos uma pílula para controlá-los, mas já sabemos que o estresse reduz o córtex pré-frontal. Há várias dicas para assuntos correlatos ao estresse, o mal do século.
A física tem vários “princípios”. Trago este conceito para a medicina e desejo, com esta coluna criar mais dois princípios: Princípio da Alavanca e do Calço. Desejo que ao ler a maioria destas dicas, você seja alavancado para uma vida saudável ou no mínimo, seja “calçado” e pare de descer a ladeira e de evoluir para uma vida de dor e sofrimento no futuro.
Ajude-me a cristalizar o conceito de bem-estar. Nós que priorizamos a medicina preventiva salvamos vidas. A medicina curativa, respeitável, diga-se de passagem, apenas retarda a morte.
Descartes disse: penso, logo existo. Eu adaptei, penso, logo posso mudar o que sou. Nós confiamos em quem tem disciplina, espero que com um mínimo de disciplina você encontre um caminho para o seu bem-estar. Vamos iniciar uma revolução na sua qualidade de vida, gradualmente. Chega de tergiversação,
Boa leitura!